sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Outras práticas eleitorais

Política é coisa séria. Ou pelo menos deveria assim ser encarada. Mas como no Brasil, infelizmente, a política e a corrupção andam de mãos dadas, uma imensa quantidade de eleitores simplesmente não leva a sério o processo eleitoral. Ficam indiferentes, votam em branco, anulam o voto e assim demonstram seu repúdio ao festival de promessas de mudança que se repete a cada eleição.

É pertinente que uma campanha trate das origens do candidato, de sua vida profissional e destaque suas qualidades. O objetivo é gerar buzz positivo e dessa forma assegurar um número de votos suficiente para garantir sua eleição. Contudo, não satisfeitos em falar bem de si, é comum muitos candidatos incorporarem estratégias de crítica e ataques aos adversários. É então que se dá a contrapropaganda.

No livro “O que é propaganda ideológica”, o autor Nelson Jahr Garcia (p.60) explica que a contrapropaganda é o recurso utilizado por um grupo na busca de neutralizar as idéias contrárias, quando não consegue obter o monopólio das informações através do controle ideológico.

O autor escreve que a contrapropaganda se caracteriza pelo emprego de algumas técnicas que visam a amenizar o impacto das mensagens opostas, anulando seu efeito persuasivo. Procura colocar as idéias dos adversários em contradição com a realidade dos fatos, com outras idéias defendidas por eles próprios ou em desacordo com certos princípios e valores aceitos e arraigados entre os receptores. Outras vezes, atua de forma indireta, tentando desmoralizar as idéias, não pela indicação das contradições que envolvem, mas pela crítica à personalidade ou comportamento daqueles que a sustentam. Critica-se o sacerdote para desmerecer o conteúdo de suas pregações, ataca-se alguns dirigentes políticos para combater a filosofia adotada pelo governo e assim por diante.

A contrapropaganda, na prática, se concretiza através da emissão de mensagens que, associadas aos argumentos ou à personalidade dos adversários, despertam reações negativas. A apresentação de fatos que estejam em contradição com as mensagens adversárias, sugerindo sua falsidade, irrealidade ou absurdo, é realizada com o intuito de despertar dúvida em relação a elas. Os fatos que se contrapõem às idéias da propaganda adversária costumam ser totalmente forjados. Não tendo condições de verificar, através de fonte segura, a veracidade ou não das informações, os receptores tendem a aceitá-las ou, ao menos, permanecem indecisos.



A contrapropaganda também atua sobre o temor, mostrando que as idéias adversárias, se concretizadas, podem causar graves prejuízos e malefícios às pessoas. Quem não se lembra da campanha eleitoral de 2002, quando a atriz Regina Duarte falou no programa eleitoral de José Serra sobre os riscos de uma eleição de Lula. No vídeo de 1 minuto, Regina lê um texto criado pelo publicitário Nizan Guanaes, no qual repete 4 vezes a palavra "medo". Todavia, o testemunhal não logrou êxito e Lula venceu aquela eleição.

A contrapropaganda também é realizada no sentido de despertar desprezo pelos adversários e suas idéias, associando-os a situações contrárias aos princípios e valores respeitados pelos receptores. Os comentários que se fazem a respeito de alguns dirigentes governamentais, acusando-os de desonestos, corruptos, homossexuais e, até mesmo, de traídos pelas esposas, visam desmoralizá-los e gerar desprezo pelas propostas e idéias que defendem.

Os veículos de comunicação, constantemente, difundem charges, apelidos e sátiras que desmoralizam e desfiguram dirigentes e líderes políticos, tornando-os engraçados ou mesmo ridículos. Quebram, assim, a imagem de respeito que estes pretendiam impor e afetam o conteúdo de suas afirmações.

A contrapropaganda, portanto, é o instrumento utilizado por um grupo, através das formas e recursos mencionados, visando neutralizar a força das teses e argumentos da propaganda adversária. Dessa forma, amenizando-o efeito persuasivo das idéias contrárias às suas, o grupo pode desenvolver sua própria campanha de propaganda, sem a necessidade de recorrer a outros artifícios e precauções que esclareçam a razão das diferenças entre suas propostas e as alheias.

Nenhum comentário: